terça-feira, 17 de novembro de 2009





Vivo, muito vivo ontem me senti quando saía à porta de casa... sem lembrar que refutara a idéia daquele pássaro no fio querer me dizer algo, me sentia um semideus a espera de uma humanização... foi o que trouxe o olhar de uma menina que em mim me perguntava: e o que é a verdade? ...enquanto saía atrás de um outro pássaro na grama da praça...
Verdade é que estava cheio de verdade quando seu olhar fez em mim brotar a dúvida que vacilou minhas certezas...
fonte da imagem: http://pt.artmajeur.com/0/images/images/joaobeja_3412369_menina_com_passaro.jpg

sexta-feira, 13 de março de 2009

Encontro de remansos

Sabe o que são remansos? Remanso é aquilo que em calma, está em movimento numa velocidade distinta daquela a que estamos habituados... É coisa de mar. De longe, vejo esses remansos... E dá vontade de tocá-los... Ah... Mas remanso é remanso só por si só... Vez em quando quase esbarra noutro: o cavalo marinho que vaga em seu destino distinto da alga que acaba de cruzar o seu caminho... Verdade é que o remanso do cavalo marinho quer dormir no colo da alga...

...remanso é átomo de mar, bolhinha de peixe... mas esse já é outro remanso.

Ela levantou-se da poltrona em direção ao aquário suspenso na mureta que divide a cozinha da sala. Pés calçados em meias listradas em azul e cinza e moletom, completo. Seu frio era brando, suficiente ao aconchego da tarde daquele feriado. Os peixes já estavam alimentados quando Mariana percebia que os que subiam à superfície já não eram aqueles de sua narrativa: Na verdade pusera mais comida no propósito de destacar os menos favorecidos dos já bem servidos. Era hora da observação! Quais pares se formariam? Quantos perfis psicológicos surgiriam daquele grupo?

O visgo da alga ainda seduzia o cavalo marinho, apesar de não mais oferecer-lhe a divina proteção por estar habitada por espadas que migram por todo o aquário e regridem ... Definitivamente ali não seria ambiente ao sagrado do cavalo marinho. Espadas são vulgares, semi nobre, nada comparado aos acarás bandeiras que assim como os acarás discos são soberanos e transitam por todo o espaço sem serem influenciados pelos ânimos exaltados de peixes insignificantes como os paulistinhas. Mais insignificantes são os neon, que de tão insignificantes precisam de luzes pra chamar a atenção.

Mariana levantou-se novamente do sofá agora em direção à geladeira em busca dos bombons que achara na padaria do supermercado do vilarejo.

Escutava de longe o canto gregoriano, cd novo que o pai escutava no quarto onde estava. Andara vagarosamente até a porta do quarto onde seu pai repousava depois de uma cerveja e frango à passarinho com fritas. Atravessara o quarto a passos leves em direção à varanda de onde se avista o mar. Manso o mar baixo compunha bem em harmonia com o céu de brancos de nuvens calmas e gaivotas revoltas por sua vez de se alimentar.

Delicadamente, Mariana poli o som de seu pai ao canto das gaivotas e sai para a praia a fim de aproveitar a tarde.

Caminhava vagarosamente e sentindo o craquelar dos grãos de areia, um friccionando o outro com seu peso, percebe a distância que tomara da pousada. Os corais de arrecife que alinhavam-se com a areia da praia, convidando-a a continuar uma caminhada em direção ao mar, ofereciam cores e formas embrenhadas de verdes e o marrom avermelhado dos musgos. Sentia que havia um universo ali. Seus olhos repetindo os reflexos da luz na água, alcançam uma concha branca e semi amarelada, fragmentada pelos movimentos da água. Inclinando-se, apanha a concha e se estende e lembrando-se que quando pequena ouvira da concha o próprio som da maré, mas experimentando-a escuta um vazio. Nada além do que estava lá.

Uma brisa suave lhe toca a testa quando Mariana, inclinando a nuca, avista umas pedras grandes onde algumas ondas que já banhara os recifes acabam por espalhar suas espumas. Resolve assim, caminhar até elas. Chegando lá percebe relevos de desgastes pela água nos quais a água chega por cima e por baixo formando remansos onde folhas de musgos acompanham seus movimentos qual pluma no vento nas esquinas da cidade. Mariana vira que algo era pensado naqueles movimentos, mas que a lógica dos seus pensamentos não justificavam verdadeiramente uma razão de ser para aquilo.

Era hora de voltar, afinal queria aproveitar o máximo do passeio e sentia que sua experiência ao certo se enriqueciria se compartilhada com alguém. Daquela tarde, sabia que podia levar em si a experiência de um caco de concha que se vai sutilmente solto no mar até se encontrar no redemoinho do acaso, quando o movimento de seu destino propõe um outro desígnio distinto da soltura de uma história particular encontrada num remanso. Era hora de regressar à pousada, já que tanto do passeio se colheu.

A essa altura da sua vida, Mariana já sabia que o verbo saber, como se conhece cronologicamente transformando-se em conhecer, não se aplicava, pois, à história daquele fragmento de concha, já que ele não pensava, tampouco à alga que se acomodava para acolhê-lo. Os passos leves e confiantes de Mariana palmilhavam a areia como quem vence a própria existência.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

_NACOIA

No silêncio e ainda
A procura de um sinal
Como se dele viesse a cura
Ou de sua promessa que é o amor
Invento alegria
Antes da página aberta













imagem: Cabeça de Sátiro - Leandro Figueiredo

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


Conhecer pelo desejo de saber é possível a partir do prazer de descobrir no que se vê algo que se vive.
A arte, fruto de uma experiência, é capaz de sensibilizar um outro que vê a obra, despertando-o ao mundo simbólico. Deste modo, a imagem para a arte é em si uma elaboração daquilo que pulsa no humano.
Saber sobre arte é saber sobre si mesmo no contexto em que se vive, pois descobrindo que uma obra de arte é morada da história que foi e está sendo deixada como herança a quem a ela tem acesso, descobre-se elementos que vão se estruturando na vida do sujeito que se permitiu sensibilizar por ela. Assim, conhecer e transmitir arte em seus processos e seus diálogos com a Estética, campo da filosofia que se reserva a ela, ou saberes como o da psicanálise é colocar para o sujeito noções para que ele possa estabelecer associações entre ele e o outro, entre ele e o Mundo.

imagem: A Maselhesa - François Rude, 1833-36 (Arco do Triunfo, Paris)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Rude

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

boa esperança


O martelo que bate
faz uma nova morada
O chicote que come
leva uma outra toada
São os dois lados
de uma mesma jangada
que sem querer
o rio faz navegar

Dói romper a semente
Pra vingar uma flor

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Poema-conto

Aquelas árvores sempre intrigaram os transeuntes
Os meninos curiosos perguntavam ao avô
Curiosos também ficavam os biólogos
o que na vida, teria feito aquilo com aquelas árvores?

Nós da história quem sabíamos
dos nés que nos homens concluíam
quando neles as questões suscitavam

Intrigavam os nós
que notras árvores como aquelas não havia

Nos nós residia o tesouro da dúvida

Como é que numa árvore como esta
haveria de existir estes nós?

A revelação veio, claro, da história
de um ourives desprendido e arteiro
dos tempos dos garimpos do velho monte

Quando pequenas eram as mudas
alianças de ouro foram nelas colocadas
Enquanto as árvores foram crescendo
suas banhas recobriam-nas deixando dúvidas nos tesouros

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Origame

no teu futuro
o meu desejo
entorno de superfície

no teu branco outro plano
lírica dobradura
nas dobras de teus anseios

no olho
tua história
direta como feixe de luz

onde então te escondes
mulher
que também sei
desejas

domingo, 7 de dezembro de 2008


aristóteles já dizia que a imitação é algo do humano. Todas as manhãs em que não acordo muito tarde, percebo que os pássaros, principalmente os pardais, são seres falantes tais como as dondocas dos salões de beleza; lá cantam as novidades, ditos fuxicos-fofocas, dos amores, prazeres, sucessos e sonhos que almejam alcançar.

Imagem: Fernand Hodler - Day I, 1899-1900

sábado, 6 de dezembro de 2008

O que tenho a dizer
estava escrito e não li
O que tenho a dizer
ainda vão editar
O que tenho a dizer
está cravado no chão
O que tenho a dizer
está plantado no ar

O que tenho a dizer
se repete já ouvi
O que tenho a dizer
não cansou de escutar
O que tenho a dizer
está calado na flor
O que tenho a dizer
está gritando de dor

O que tenho a viver
é a pedra no chão
O que tenho a viver
é o tao e o cipó
O que tenho a viver
é o vinho e o pão
O que tenho a viver
grão de areia já é

Que branca, que branda essa clareira no céu: iluminando, ainda que tarde, tuas curvas
imagem: Charles Maurin - Maternity, 1893